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Divulgue sua dissertação: Como a complexidade do ambiente afeta as especies de sapos em macrófitas

Atualizado: 14 de jun. de 2020

Na inauguração da sessão "Divulgue sua Dissertação", hoje é dia do egresso Pedro Ganança falar sobre seu trabalho


Qual o problema da pesquisa?


Lagos da várzea amazônica sofrem inundações periódicas pela natural subida e

descida dos rios. Durante as cheias muitas plantas aquáticas, denominadas macrófitas, cobrem extensas áreas da superfície da água. Essas plantas são importantes para muitos animais aquáticos e não aquáticos, desde invertebrados microscópicos até grandes vertebrados como peixes-boi ou a gigantesca cobra sucuri.


Esses animais podem usar as macrófitas como fonte de alimento, refúgio contra

predadores, local para reprodução, berçário para filhotes e mecanismo de dispersão.


Entre os animais que ocupam as macrófitas destacam-se os sapos (conhecidos

cientificamente como anuros), os quais estão presentes em grandes quantidades nas macrófitas de rios e lagos amazônicos, visto que a maioria das espécies precisam de água para depositar seus ovos e para o desenvolvimento dos girinos.


As assembleias de sapos (conjunto de espécies em um determinado local e tempo) são influenciadas por muitos fatores bióticos (como competição e predação entre espécies) e abióticos (como temperatura e propriedades físico- químicas da água). As características do ambiente podem determinar quais espécies podem ocorrer em determinado local, segundo suas limitações morfológicas, fisiológicas e pela competição com outras espécies. Embora macrófitas aquáticas sejam amplamente distribuídas ao longo dos lagos amazônicos, pouco se sabe sobre padrões de ocupação de macrófitas por anuros. Macrófitas podem ser bastante heterogêneas em relação a variáveis ambientais, e por isso efeitos de filtragem ambiental sobre populações e assembleias podem ser esperados mesmo em uma localidade relativamente pequena como a de um lago.


Devido a características como pele permeável e estágio larval aquático na maioria das espécies, os sapos são frequentemente considerados como bioindicadores da qualidade ambiental. Pela mesma razão, os sapos são sensíveis à degradação ambiental e são considerados os mais vulneráveis entre os grupos de vertebrados. Os sapos são organismos-modelo para investigar os efeitos da heterogeneidade ambiental nas assembleias porque respondem a gradientes ambientais nas escalas continental, regional e local. Na Amazônia, diversos estudos têm demonstrado que assembleias de anuros podem ser estruturadas pela variação ambiental em diferentes escalas, mas a maioria desses estudos é baseada em amostragens de ambientes florestais, e estudos que abordam sapos em macrófitas são raros e essencialmente descritivos, sem testar como gradientes ambientais atuam sobre essas espécies.


Figura 1. Algumas espécies de sapos encontradas nas macrófitas.



Como a pesquisa foi realizada?

Alunos de mestrado, graduação e professores da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, estudaram a assembleia de anuros associados a macrófitas em um lago de várzea Amazônica com o objetivo de testar a hipótese geral de que os gradientes de profundidade da água, altura e composição das macrófitas, distância do banco à margem, pH e oxigênio dissolvido na água e temperatura afetam as estimativas de diversidade de sapos. O estudo foi conduzido no Lago do Maicá, próximo ao perímetro urbano da cidade de Santarém, baixo Rio Amazonas. Recentemente tal lago começou a sofrer pressões no seu ambiente, pelo crescimento urbano da cidade de Santarém e principalmente pela construção de um porto de combustíveis de combustíveis.


Os sapos foram amostrados ao longo de 15 km2 em bancos de macrófitas contínuos e em contato com a margem do lago. Para isso foram amostradas 50 parcelas, cada uma com 50 m de comprimento e 6 m de largura, paralelas à margem do lago e a 500 m de distância entre as parcelas adjacentes.


Registramos sapos usando busca ativa visual e acústica, com três observadores a bordo de uma canoa de oito metros de comprimento. Coletamos os dados durante março de 2019, entre as 18:30 h e as 00:00 h. Essa abordagem foi útil na amostragem de sapos em condições ótimas de detectabilidade já que é o período de chuva e cheia dos rios, época reprodutiva para muitas espécies de anuros amazônicos.


Figura 2. Representação da metodologia usada para a coleta de dados. Ilustração: Larissa Ramos.


Qual a importância da pesquisa?

O presente estudo mostrou que a distribuição espacial de assembleias de sapos não é aleatória ao longo de um sistema de lagos Amazônicos, mas influenciada por gradientes ambientais onde macrófitas mais altas abrigam maior número de espécies de anuros. Também foi observado que ocorresubstituição de espécies ao longo de gradientes de altura das macrófitas, composição das macrófitas e profundidade da água. Esses achados são relevantes para a conservação, porque mostram alta complementaridade biótica entre locais dentro de ecossistemas regionalmente raros e aparentemente homogêneos em macroescalas.


Altos níveis de complementaridade biótica têm sido amplamente sugeridos como um critério eficiente para definir áreas de conservação prioritárias. Tais resultados são altamente relevantes para a ecologia e conservação, pois sugerem que os bancos de macrófitas aquáticas devem ser considerados unidades biogeográficas distintas dos habitats adjacentes. Isso é particularmente crítico em nossa área de estudo, porque um porto para navios cargueiros está sendo construído e os estudos de impacto ambiental muitas vezes são deficientes e precários, e não levam em conta a complexidade ambiental local.


Considerando a estrutura espacial local da assembléia de sapos determinada pela qualidade heterogênea do habitat, prevemos que o tráfego de navios causará a extinção local por migração ou malformação de girinos.


Autores

Pedro Henrique Salomão Ganança; Rafael de Fraga; Ricardo Alexandre

Kawashita; Lourival Baía de Vasconcelos Neto; Ivan Alves dos Santos Junior;

Daniel de Sousa Guedes e Alfredo P. Santos-Jr.

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